segunda-feira

A cidade que o curitibano... desconhece

Das dezenas de cartões-postais de Curitiba, que completa 320 anos na próxima sexta-feira, apenas 15 já foram visitados por mais de 70% da população que aqui vive. Levantamento feito pela consultoria iBRAIN Inteligência de Mercado e Pesquisa Estratégica revela que, em geral, o curitibano desconhece muitas atrações da cidade – desde parques e bosques incrustados em bairros residenciais a locais internacionalmente famosos, como a Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre).

A pesquisa, realizada a pedido da Gazeta do Povo, ouviu 500 pessoas. Destas, 51,6% são “nativas” e o restante, curitibanos por adoção. Entre os que vieram de outras localidades, a grande maioria (69%) mora na cidade há mais de dez anos.

De acordo com a consulta, o curitibano demonstra interesse em conhecer vários locais da cidade – 49% citaram mais de uma atração. Entre as que receberam menção especial estão a Torre Panorâmica, a Ópera de Arame e o Museu Oscar Niemeyer (MON).

Mas por que as pessoas ainda não foram até esses espaços? O principal motivo é a falta de tempo (51%). Outros obstáculos, como falta de dinheiro, falta de conhecimento e dificuldade de pegar ônibus, não são grandes impeditivos – cada uma dessas respostas teve 9% de citações.

Entretanto, a alegada “falta de tempo” parece ser relativa. Questionados sobre o que gostam de fazer, os curitibanos revelam que preferem ficar em casa a outros programas de lazer, como visitar amigos ou ir a igrejas, restaurantes, parques, shoppings, bares ou clubes. O conforto do lar foi mencionado como programa preferido por 44,4% dos entrevistados.

Apesar de a avaliação geral sobre Curitiba ser muito boa – as palavras mais usadas para descrevê-la são limpa, bonita e organizada –, a pesquisa também detectou alta desaprovação no quesito segurança: 81%. “Você não consegue avistar beleza se se sente inseguro”, opina a professora Doralice Araújo, natural de Manaus, moradora da capital paranaense há 21 anos. “O jovem prefere ir a shoppings e, às vezes, a própria família acaba incentivando isso, com medo de que ele frequente locais abertos que são inseguros”, acrescenta.

Os irmãos Lia e Caio Liberal – ela com 20 e ele, 19 – não se escondem em shoppings. Na quinta-feira passada, estavam com Tatiana Roberti, 19 anos, da Argentina, na Torre Panorâmica. “O legal daqui é que não é uma homenagem a nenhum povo específico, é uma homenagem à cidade em si, muito legal ver daqui de cima”, disse Lia.

O clima frio e úmido parece ser uma barreira para o curitibano conhecer mais atrações. “Eu acho incrível, chega o fim de semana e não vejo meus vizinhos. Eles preferem ficar dentro de casa. Eu, como vim de uma região mais calorenta, não aguento ficar muito tempo fechada. E, se tem sol, não suporto ficar dentro de casa”, conta a professora Doralice Araújo, nascida em Manaus.

“Naturalmente, o comportamento do curitibano é um reflexo do clima. Não é uma cidade como Belo Horizonte, Rio de Janeiro. O clima inóspito torna a opção ‘ficar em casa’ muito mais agradável”, opina o publicitário Ernani Buchmann. Mas, ressalta, essa preguiça não precisa ser vista como uma coisa negativa.

Para o educador ambiental Raphael Frederico Neto, um dos técnicos que atua na ONG Unilivre, muitos curitibanos são do tipo “encorujado”, mas ele diz que isso pode mudar. Na Unilivre, que fica dentro do Bosque Zaninelli, no bairro Pilarzinho, as chuvas podem atrapalhar as visitas monitoradas, mas também podem ser inseridas nas palestras. “Mostramos como a água é fundamental no ciclo da vida. Nem precisamos falar, nosso trabalho é apenas 10% do total. O resto, a natureza fala por si só.”





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