segunda-feira

Independentes na rua

Daniel Castellano/Gazeta do Povo /

Empresários vão na contramão das megastores e mostram que a livraria pequena pode ser um bom negócio – para eles e para os leitores. Em pouco mais de um ano e meio e em um raio menor do que dois quilômetros, três livrarias de rua que abriram em Curitiba, cujas vitrines, ao contrário de lojas das grandes redes, são bastante diferentes entre si, investiram na conquista de leitores que querem muito mais do que um best seller. Há exatamente 40 dias, outro empresário, Diogo Fontana, resolveu se aventurar nessas mesmas ruas entre o Centro e o Batel e abriu, na charmosa e arborizada Alameda Prudente de Morais, a Livraria Danúbio, fechando o “quarteto” de livrarias que acham que kindles e afins não chegam nem aos pés de um bom livro de papel.

Com uma decoração delicada, cheia de referências de livrarias estrangeiras, que Fontana pesquisou com a ajuda da mãe, Ana Dalgiza de Almeida Fontana, a Danúbio mistura títulos novos, importados (há várias obras de editoras portuguesas) e usados, distribuídos em um espaço específico da loja e também em um caixote de madeira na calçada, junto com as mesas para o café (que fica junto com a livraria). “Decidi unir novos e usados pois não tinha visto em lugar nenhum. Muita coisa aqui na livraria ainda é teste”, frisa Fontana, que é auxiliado pelo único funcionário, Dyan Soares, de 18 anos, contratado após bater na porta da Danúbio pedindo emprego. 

Fontana acredita que as pequenas livrarias de rua ajudam o leitor a passar tempo no espaço. Coisa que o livro digital jamais fará, declara, enfático. “Conheço gente que tem mais de mil livros no kindle e leu cinco.” Para a surpresa dele e de muitos, adolescentes que não tiram o iPhone da mão andaram procurando clássicos do vestibular, facilmente encontrados na internet. “Até essa geração diz que acha melhor ler no papel”, relata o empresário, que teve no primeiro mês um faturamento que era esperado para após quatro meses. 

Para Thiago Tizzot, sócio da livraria Arte & Letra – que, antes de ganhar uma sede ampla funcionou por cinco anos junto com um café e hoje é ponto de encontro de artistas e escritores da cidade –, a livraria de rua promove a aproximação do leitor/cliente porque resgata o papel do livreiro, “da pessoa que pesquisou e vai lhe indicar o título. Esse é o diferencial”, acredita. 

Por outro lado, manter o negócio não é fácil, pois é necessário relembrar as pessoas constantemente para que saibam que existe vida, e livrarias, além do shopping. É a opinião de Tizzot. Ele, Fontana e o casal Luís Felipe Jacobsen e Cláudia Menegatti, donos da Poetria, aberta em outubro do ano passado, investem no lançamento de livros, cursos e palestras para deixar o espaço em constante movimento. “Financeiramente, sentimo-nos participando de um movimento paralelo às tendências de consumo rápido e impessoal. Por isso, sabemos que nossos desafios ainda serão grandes”, salienta Cláudia. A Navegadores, direcionada ao público infantil e idealizada por Marco Antônio Busetti e pela esposa, Rossana, faz contação de histórias e aniversários, e pretende realizar convênios com escolas. “Só da venda, não sobreviveríamos.”

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