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Fifa chega a Curitiba para "operação Baixada"



Secretário-geral da entidade conhece nesta terça-feira o projeto da capital paranaense para 2014. Autoridades armam rápida agenda para “vender” a cidade e, especialmente, o estádio do Atlético.
Para o governo estadual, uma cortesia. Para o municipal, uma inspeção técnica. É dessa forma contraditória que está sendo encarada a primeira visita do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, às obras da Arena da Baixada.

Em comum nos dois discursos, o otimismo de que tudo será visto com “bons olhos” pela organizadora da Copa do Mundo de 2014 e a intenção de mostrar o máximo possível do que está se fazendo além do estádio – mesmo com o atraso (apontado pelo Tribunal de Contas do Estado) dos 12 projetos de mobilidade urbana tratados como legado do evento.
Famoso após ter afirmado em março que o Brasil merecia “um chute no traseiro” para acelerar as obras do Mundial, Valcke chegará hoje, às 10 horas, ao Aeroporto Afonso Pena, junto a uma comitiva que terá ainda o Ministro do Esporte, Aldo Rabelo, além dos ex-jogadores Ronaldo e Bebeto, membros do Comitê Organizador Local (COL).

O cartola suíço será recepcionado pelo prefeito Luciano Ducci, que aproveitará o trajeto até a Arena, no hibribus (ônibus com motor elétrico e a diesel), para apresentar o que Curitiba está fazendo para o evento.

Após visitar o estádio, a comitiva irá para um hotel onde o Atlético e o governo do estado, este representado pelo secretário da Copa Mario Celso Cunha, mostrarão o que estão fazendo pelo Mundial, em uma apresentação de dez minutos de cada parte.

Mas o que a Fifa realmente quer saber, segundo o secretário municipal Luiz de Carvalho, é sobre os trabalhos na Baixada.

“Eles querem saber sobre prazos, cronograma do estádio e se o projeto Fifa está sendo respeitado. A equipe de arquitetos e engenheiros deles vai apontar possíveis erros e acertos, mas como tudo que vem sendo executado foi pré-aprovado pelo Comitê da Copa, a tendência é que não tenham erros”, argumenta.

Já segundo Mario Celso Cunha, uma reunião com a assessoria de Valcke ontem mostrou que a visita será apenas de cortesia, para conhecer a sede Curitiba. “Foi feito um mirante na Arena para que ele possa apreciar os dois lados da obra”, conta, confiante que só escutará elogios.

O otimismo não é por acaso. Segundo relatório do Ministério do Esporte, das seis sedes que estão no Mundial e não na Copa das Confederações, o estádio do Atlético só está atrás do de São Paulo no andamento das obras. A previsão é que a Arena fique pronta em agosto, mas a exigência da Fifa é que todos os locais dos jogos fiquem em ordem até dezembro de 2013.

Mesmo assim, na sexta-feira passada o Ministério do Trabalho autorizou que as obras no Joaquim Américo ocorram também aos domingos e feriados.

Após a reunião no hotel, a entrevista coletiva, e o almoço com o prefeito, Valcke será recebido pelo governador Beto Richa, que não acompanhará a comitiva por problema na agenda. A previsão é que o dirigente deixe a capital paranaense às 15 horas – com a certeza de que há uma unidade política em prol do projeto curitibano.

A fifa verá...

A Arena da Baixada receberá quatro jogos da Copa, com investimento (sem tributos) de R$ 184,6 milhões, sendo R$ 131,1 milhões via financiamento federal. O complexo esportivo vem sendo projetado para ser um espaço destinado a múltiplos eventos.

1) As obras: o Ministério do Trabalho e Emprego autorizou na sexta-feira a empresa CAP S/A, que gerencia a obra, e as construtoras que participam da edificação, a executarem trabalhos aos domingos e feriados. Conforme o último relatório apresentado pelo clube, em 2/11, houve avanço de apenas 10,99% da obra nova e 41,40% da reforma e ampliação, um total de 52,39%. Os trabalhos são divididos em três partes: demolições, fundações e construção. No total, quatro setores ainda passam pelo processo de demolição: uma das curvas da arquibancada, as torres responsáveis pelos pontos cegos, a laje externa de um trecho das cadeiras e as lojas internas da arquibancada superior. Outros sete setores já têm essa etapa concluída.

2) Os prazos: a primeira data de reabertura era março de 2013. Depois passou para junho. Por fim, segundo aponta o último relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), ficou ainda mais para frente. O documento do órgão dedica 16 linhas e quatro tópicos à situação da Arena. No último item, está escrito que “de acordo com o cronograma da empresa Engevix [gerenciadora da obra], foi postergado para agosto do mesmo ano”. O presidente do Atlético, Mario Celso Petraglia, em audiência na Câmara dos Vereadores, não descartou mais atrasos. A impontualidade, no entanto, em nada afetará a Copa, em junho de 2014 -- desde que o estádio seja entregue até dezembro de 2013, prazo máximo estipulado pela Fifa.

3) Os recursos: o Atlético deve receber, até o fim do ano, metade dos R$ 131,168 milhões do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), via Fomento Paraná. O início da liberação está previsto para os primeiros dias de dezembro, após a conclusão de uma auditoria físico-financeira da obra. Caso comprove que já executou pelo menos 15% do projeto, a CAP S/A terá direito a 20% do montante – o equivalente a R$ 26,2 milhões. Como, segundo o clube, 50% já foi executado, a liberação da segunda parcela será de pelo menos R$ 59 milhões (45% do crédito). Até agora o clube recebeu R$ 90 milhões em títulos do potencial construtivo da prefeitura.

4) As polêmicas: com o reajuste da obra na Baixada, o valor a cargo do estado e município passaria de R$ 90 milhões para R$ 123 milhões. A Lei 13.610/10, que instituiu o potencial construtivo destinado à praça esportiva, é explícita na estipulação de R$ 90 milhões como repasse máximo – correspondente a R$ 45 milhões para o estado e R$ 45 milhões para o município. Os outros R$ 45 milhões seriam de responsabilidade do Atlético. Com o salto do orçamento para R$ 184,6 milhões, o montante de cada parte subiu para cerca de R$ 61 milhões. Para tentar fechar a conta, a prefeitura recorreu à Câmara em junho com um projeto para alterar a norma, mas desistiu às vésperas do primeiro turno da eleição municipal, em outubro. Promete agora fazer o repasse por decreto, sem ouvir os vereadores.

5) As comparações: excluindo os estádios da Copa das Confederações-- Mineirão (93%), Fortaleza (92,83%), Brasília (81%), Salvador (80%), Rio de Janeiro (75%) e Recife (70,5%) --, a Arena da Baixada (52,39%) só está atrás de São Paulo na evolução das obras (55%). A Arena Dunas (38,57%), de Natal, é a mais atrasada. Cuiabá (50,3%), Manaus (45%) e Porto Alegre (44,9%) completam a lista.


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