segunda-feira

Sons para celebrar Leminski


 / Parceiro de grandes nomes da MPB, poeta também se destacou no cenário musical

Consagrado por sua poesia, a faceta musical do escritor e poeta Paulo Leminski sempre permaneceu um pouco mais oculta, apesar das conhecidas parcerias com músicos. Tanto que a filha, Estrela Leminski, organizou e planejou uma parte dedicada somente à música na exposição Múltiplo Leminski, em cartaz desde o ano passado no Museu Oscar Niemeyer (MON), que termina no dia 9. Para o encerramento da mostra, o auditório do MON recebe amanhã o show Essa Noite Vai Ter Sol, com Estrela, Téo Ruiz e participação especial de Arnaldo Antunes.

O espetáculo, que estreou em 2009 no Itaú Cultural, em São Paulo, como parte da exposição Ocupação Leminski, traz no repertório composições populares de Leminski, como “Verdura”, gravada por Caetano Veloso, e “Luzes”, interpretada primeiramente por José Miguel Wisnik (que participou do mesmo show, que também fez temporada no Teatro Paiol em 2011), e estourou na voz de Antunes. Além disso, Estrela incluiu no repertório do show de amanhã algumas canções inéditas. “Com o show de 2011, percebi que as pessoas ficavam impressionadas em saber que várias músicas de que gostavam eram composição dele.”

Estrela salienta ainda que o show consegue resgatar, do ponto de vista histórico, o que seu pai criou musicalmente. “Ele estava ao mesmo tempo no tropicalismo, na vanguarda paulista e no rock de Curitiba. E é legal as pessoas saberem desse lado, ele não fazia musiquinhas em casa, é para as pessoas sacarem como é a obra musical dele.”

Na estreia do show em 2009, Estrela e Téo Ruiz dividiram o palco com Edvaldo Santana, Vitor Ramil e Moraes Moreira. No Paiol, em 2011, o convidado foi José Miguel Wisnik e, dessa vez, Estrela resolveu chamar Arnaldo Antunes, que é uma influência musical e poética para ela. Em comum, todos esses convidados têm uma afinidade não somente artística, mas pessoal. “Eu sempre opto por pessoas mais próximas, o Moraes Moreira é meu padrinho, é algo normal dividir o palco. O Zé Miguel, idem, também temos muita proximidade. E o Arnaldo, lembro muito pequena que já íamos na casa dele, a família toda é amiga. Faltava ele nessa sequência de parceiros”, diz.

Com a exposição no MON e o lançamento de Toda Poesia, livro que reúne a trajetória poética de Leminski e é sucesso nas livrarias (em um mês, foram três reimpressões e mais de 15 mil exemplares vendidos, além de ter permanecido por semanas no primeiro lugar da lista dos títulos mais vendidos da Livraria Cultura), parece existir uma “onda Leminski”.

“A exposição acabou mexendo com quem já conhecia a obra dele, e serviu para uma nova geração que não tinha esse contexto sobre ele”, acredita Estrela. Já o estouro do livro foi um “alívio.” “A obra estava complicada em outra editora, foi um desatar de nós. Muita gente também é apaixonada pela obra dele mas não encontrava livros. Em sebos, qualquer livro dele custa pelo menos R$ 60, e agora é possível ter a obra completa por menos de R$ 40.” Segundo Estrela, o preço acessível foi algo que a família “bateu o pé” para acontecer, mas ela se surpreende com o fato de um livro de poesia ter tamanho sucesso comercial. “Torço para que pessoas que compraram o livro procurem outros autores de poesia também.”

Onda do poeta ainda terá CD duplo e songbook

Até o final de 2014, um CD duplo com canções de Paulo Leminski estará disponível. O projeto, contemplado no mecenato municipal, reúne tanto as parcerias musicais do escritor como os trabalhos solos – para esta parte, Estrela Leminski, filha do escritor, será responsável pela maioria das interpretações, com participações de Ná Ozzetti, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro.

Ela também vai manter no disco uma faixa com o próprio Leminski cantando. “Para as pessoas sacarem o jeito de ele cantar, com sotaque bem carregado.” Estrela também fará novos arranjos para as canções, mantendo os gostos pessoais do pai – ela diz que é fácil de perceber em várias músicas influências de bandas como The Police e Sex Pistols. O disco sairá no ano que vem, ainda sem data definida.

Há cerca de 15 dias, outro projeto, inscrito em edital da Petrobrás, foi aprovado: um songbook que reúne a obra musical de Leminski. “Ainda nem caiu a minha ficha”, conta Estrela, que também está organizando muitas fitas cassete inéditas, e restaurando outras (algumas estavam mofadas). “Ele gravou muita coisa para os amigos, então, arrisca de algo novo aparecer.” O lançamento deve ocorrer em 2015.

Fonte: Gazeta do Povo

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