segunda-feira

Na semana da mulher, conheça algumas personalidades que fizeram história em Curitiba.

São mulheres como as médicas Maria Falce Macedo e Zilda Arns, a professora Júlia Wanderley, a atriz Lala Schneider e as poetisas Helena Kolody e Júlia da Costa, que – após terem falecido – viraram nomes de escolas, ruas e teatros e, mais do que tudo, nos inspiram por suas trajetórias e posições à frente do seu tempo. 

Ao se aprofundar na história de vida de cada uma delas, é inevitável constatar características comuns: todas viveram uma relação muito íntima com a educação e a cultura e não tiveram medo de superar dificuldades ou preconceitos. 


À mestre, com carinho 

Natural de Curitiba, Maria Falce Macedo (1897-1972) foi uma das raras senhoras poliglotas do estado – dominava com perfeição francês, italiano, espanhol, inglês e latim – e colecionava ineditismos, como mostra a professora Maria Nicolas no livro Almas das Ruas. Como se não bastasse ser a primeira mulher a se matricular na primeira turma da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1914, ela esteve à frente de um acontecimento ainda mais especial para os anais do ensino superior: foi a primeira mulher a ocupar uma cátedra universitária no Brasil. Em uma época em que a Medicina era privilégio dos homens, Maria superou obstáculos e lecionou na UFPR por 41 anos, até falecer em abril de 1972. 

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“Fé em Deus e pé na tábua” 

Era com essa frase que a médica pediatra Zilda Arns (1934-2010) costumava iniciar qualquer projeto novo que adotasse, como conta o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, que conviveu mais de 15 anos com ela. Embora nascida em Forquilhinha, Santa Catarina, construiu sua vida no Paraná e escolheu a Medicina como missão. Por isso, o Hospital do Idoso, inaugurado em 2012 no Pinheirinho, traz o nome da Doutora Zilda, como a chamavam os amigos. Ela fundou a Pastoral da Criança em 1983 e levou a primeira ação da entidade a Florestópolis, no Paraná, onde o índice de mortalidade infantil chegava a 127 mortes a cada mil crianças. Após um ano de atividades, o índice caiu para 28 mortes a cada mil nascimentos. O sucesso incentivou a Igreja Católica a expandir a pastoral para todos os estados e o Ministério da Saúde a adotar e aperfeiçoar alguns dos métodos criados pela pastoral para combater a mortalidade infantil e a desnutrição. Ela percorreu os cantos mais remotos do Brasil e de diversos países na América Latina, Ásia e África. Desde então, Zilda foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz e colecionou glórias pelo mundo todo. Em 2004, ela fundou e coordenou a Pastoral da Pessoa Idosa e, em 2010, faleceu vítima do terremoto que atingiu o Haiti. 

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A nossa normalista 

Quem passou pela Praça Santos Andrade sem tanta pressa, deve ter reparado no busto em bronze da educadora Júlia Wanderley Petrich (1874-1918), talhado por João Turin, que disputa as atenções com outros tantos bustos da praça. Ela foi a primeira mulher a participar presencialmente do curso da Escola Normal na capital, em 1893. Natural de Ponta Grossa, enfrentou os preconceitos de seu tempo contra as liberdades femininas e conseguiu matricular-se na Escola Normal, liderando um movimento para o ingresso de moças no educandário. Uma professora dedicada, uma católica convicta e uma entusiasta de Darwin, Júlia ainda é a única mulher retratada na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná entre quase 100 fotos que aparecem na galeria dos vultos paranaenses, de acordo com pesquisa desenvolvida na UFPR, em 2010, por Silvete Crippa de Araújo. 

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A fera curitibana dos palcos 

Poucos sabem, mas a grande atriz Lala Schneider (1926-2007) também era uma cozinheira de mão cheia. Sua especialidade: o barreado. Seu segundo nome: a determinação. Natural de Irati, no sudeste do estado, Lala trabalhou em 99 peças, 9 filmes e 8 novelas. Pelo trabalho na peça “O Vampiro e a Polaquinha”, que ficou sete anos em cartaz, ganhou o Troféu Gralha Azul de melhor atriz em 1993. Em 52 anos de atuação, foram 16 prêmios no total. “Em qualquer parte do Brasil, todos sabiam quem era a atriz Lala Schneider, uma verdadeira fera nos palcos. Ela deu condição de arte de primeira grandeza ao teatro e por muito tempo foi uma referência que determinou o pensar teatral para uma geração da qual faço parte”, relata um de seus pupilos, o diretor, roteirista e dramaturgo Edson Bueno. A trajetória em benefício do teatro paranaense levou à inauguração, em 1994, do Teatro Lala Schneider, uma homenagem por parte do diretor e ator João Luiz Fiani, outro discípulo de Lala. Em 2012, foi inaugurado um busto dela em frente ao Teatro Guaíra, na Praça Santos Andrade. 

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Vida feita de versos 

Paulo Leminski certa vez se referiu à professora e poetisa Helena Kolody (1912-2004) como a “padroeira” da poesia de Curitiba. Filha de ucranianos, natural de Cruz Machado, no sudeste do Paraná, Helena era uma doce senhora de olhos azuis cristalinos que, pela candura de seus textos, reunia seguidores por onde quer que fosse. “Ela foi uma poeta de primeira categoria. Tinha a capacidade de dizer em poucas palavras o que um prosador levaria páginas. Chego até a colocá-la no mesmo nível de Cecília Meireles”, confidencia o escritor e professor de literatura da UFPR Paulo Venturelli, que começou a conviver com a padroeira da poesia de Curitiba quando fez a primeira grande análise crítica de sua obra, publicada em 1995. “Seus poemas eram os filhos que ela gostaria de ter tido”, diz Venturelli. Em reconhecimento à obra da professora dedicada, muitos estabelecimentos receberam o seu nome e, em 1988, a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná instituiu o Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody. 

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A primeira poetisa paranaense 

Júlia da Costa (1844-1911) é considerada por historiadores locais como a primeira poetisa paranaense. Não é a toa que uma das alamedas mais importantes de Curitiba recebe seu nome. Natural de Paranaguá, cresceu em uma família tradicional e sempre se destacou por ser uma figura forte, decidida e controvertida. Segundo artigos da organizadora da poesia de Júlia da Costa, a professora de Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina Zahidé Lupinacci Muzart, ela viveu toda a vida na ilha de São Francisco do Sul, no litoral nordeste de Santa Catarina, e escreveu também muitas crônicas-folhetins, hoje chamadas de crônicas sociais, analisando moda e relatando festas. Júlia se casou por imposição familiar com um homem rico e 30 anos mais velho, mas amou verdadeiramente o poeta Benjamin Carvoliva, correspondendo-se com ele quase que diariamente. Depois da morte do marido, fecha-se em casa e permanece na solidão por oito anos, até sua morte. 

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A eterna musa do Paraná 

“É a Paraná! É a Paraná! É a Paraná!”. Isso era o que se ouvia do coro de 50 mil pessoas que lotaram o estádio das Laranjeiras (sede do Fluminense), no Rio de Janeiro, para a grande final do primeiro concurso Miss Brasil, em 1929. A Miss Paraná em questão era Marie Delphine Caillet (1907-1982), mais conhecida como Didi Caillet, que, apesar de ser a menina dos olhos dos jornalistas e do público, acabou com a faixa de segundo lugar, como conta o livro Didi Caillet – A Musa dos Paranistas, organizada pelo psicanalista, fotógrafo e professor aposentado da UFPR Paulo Koehler. Bela, inteligente e dona de uma simpatia cativante, Didi arregimentava uma legião de fãs por onde passasse. “Quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país, ela ajudou o Paraná a ser reconhecido como um estado e não mais como uma extensão de São Paulo. Essa foi sua maior contribuição”, afirma Koehler. Depois do concurso, essa filha de uma italiana com um francês lançou-se à literatura e também virou garota-propaganda de diversos produtos, entre eles o Leite de Rosas e o Matte Leão. Didi casou-se com Luíz Abreu de Leão e teve quatro filhos. 

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